A forma retórica no “Sermão da Sexagésima”, de Antônio Vieira

Introdução

Não tenho a pretensão de abraçar plenamente a sugestão dada por José Murilo de Carvalho, mas este trabalho foi inspirado pela leitura de um “artigo convidativo” deste historiador. Este breve texto tem por finalidade utilizar a “retórica como chave de leitura” para uma reflexão, ainda incipiente, do Sermão da Sexagésima, do padre Antônio Vieira. A despeito de o autor do “convite” referir-se, sobretudo, a estudos de textos produzidos por intelectuais do século XIX, acredito ser possível transpor essa “chave” para um texto escrito e pregado dois séculos anteriores. Antes da reflexão do estilo de discurso em si, acredito ser útil uma breve discussão sobre as reviravoltas no âmbito da produção intelectual que contribuíram para o estudo da retórica voltar à cena na contemporânea produção historiográfica após um longo período de “esquecimento”. Já disse Francisco Falcon: a despeito de estarem mais vivas do que nunca dentro da “oficina de Clio”, as idéias produzem um efeito ambíguo sempre que se tenta associá-las à história. Isto justamente porque ainda não se tem de forma clara o que vem a ser exatamente a história das idéias: uma disciplina cujo objeto são as idéias ou uma pesquisa da trajetória delas mesmas? Mas como não é o intuito deste trabalho discorrer pormenorizadamente sobre este tema, pode-se, de forma sintética, afirmar que a história das idéias corresponde a uma dentre variadas disciplinas históricas que têm como objeto comum, embora não necessariamente exclusivo, as idéias. Tradicionalmente, conceitua-se “idéia” como representação mental de um objeto ou fato, logo, o conceito de idéia confunde-se com o de representação. Porém, o conceito de representação pode ser entendido e analisado em diferentes dimensões: indicando uma característica do discurso histórico, logo, sendo um conceito epistemológico ou então, apontando para o caráter textual e lingüístico do discurso histórico, sendo assim, um conceito de natureza narrativa. Ambas