A festa de Babete

A história do filme “A festa de Babette” se passa num vilarejo da Dinamarca no ano de 1871, onde duas irmãs que pregavam a salvação através da renúncia, acolhem a desconhecida Babette, uma refugiada da guerra civil francesa. A relação entre o filme e a obra de Max Weber mostra a fidelidade dos calvinistas puritanos aos seus dogmas. O filme começa retratando a obediência das jovens Martina e Philippa (nome que são em homenagem a Martinho Lutero e Filippe Melanchton) ao seu pai, a abdicação de prazeres e que o trabalho deve ser somente para a glória divina. Retrata também que o lazer é irracional leva ao descontrole e uma atividade cultural, como cantar, pode levar ao ócio representando a disciplina do puritanismo.
O filme representa também a liderança do pastor através do princípio carismático que lhe é legitimado; segundo Weber, a relação de dominação acontece por meio da crença dos subordinados nas qualidades do seu líder, que adquire certa facilidade de persuadir e guiar seus seguidores. E esse princípio não é hereditário, mostrado no filme quando o pastor morre suas filhas tentam dar continuidade em sua obra, mas não conseguiram pois não tinham a mesma predestinação de líder que seu pai. E a liderança carismática não chega a santificar a figura eclesiástica, sendo que o puritanismo nega o misticismo, é uma religião intramundana e, sendo assim, o protestantismo é um dos responsáveis por aquilo que Weber chama de “desencantamento do mundo” em sua obra.
A doutrina calvinista também apresenta um outro aspecto: a individualidade. As irmãs, Philippa e Martina não apresentam fortes laços afetivos com ninguém, já que, de acordo com o puritanismo, os elementos de ordem sensorial e sentimental são inúteis e poderiam desviá-las do caminho da salvação. É por isso que Martina e o General Lorens Löwenhielm não desenvolvem nenhum tipo de relacionamento, pois ela deveria renunciar a qualquer prazer físico ou relacionamento, já que “‘homem de confiança’ só Deus mesmo”. Este