A cidade e as serras

Meu amigo Jacinto nasceu num palácio com 109 contos de renda em terras de semeadura de vinhedo de cortiça e de olival. Sua família era agrícola, e plantavam cepa no tempo de el Rei D. Dinis. Seu avô Jacinto, a quem era chamado de D. Galeão em Lisboa, em uma tarde escorregou em uma casca de laranja num lajedo, quando naquele momento apareceu D. Miguel, que lhe ajudou a levantar-se. Desde aquele momento, D. Galeão passou a adorar D.Miguel, filho do Rei João XVI e herdeiro do trono, que foi aclamado rei, aboliu a constituição e estabeleceu o absolutismo em Portugal. Seu irmão, D. Pedro desembarcou em Portugal, com um pequeno exercito, e com o apoio dos liberais derrotou D.Miguel, que por sua vez teve que fugir, para o exilio. D. Galeão, muito fiel ao seu rei, resolveu abandonar Portugal, e partiu com sua esposa Angelina Fafes, seu filho Cintinho, e alguns criados para Paris. Como era muito bem de vida, adquiriu um novo palacete no Campo Elisios, 202, e ali D. Galeão viveu luxuosamente, até morrer de indigestão. Angelina, sua esposa, permaneceu em Paris junto com seu filho Cintinho, que era um menino muito doente, e tuberculoso. Seu medico lhe aconselhava a mudar para lugares onde havia climas mais saudáveis, porém, ele preferiu continuar onde estava, pois estava apaixonado por Teresinha Velho, filha do desembargador Velho. Casou-se com ela, e depois de um tempo veio a falecer sem presenciar o nascimento do filho. Três meses e três dias depois do seu enterro meu Jacinto nasceu. Ao contrário do pai, Jacinto era um menino muito saudável e inteligente. Era rico, sortudo e por seus dotes espirituais era chamado por seus amigos de príncipe da Grã Ventura (Príncipe da grande felicidade). Tinha como ambição aprender filosofia. Jacinto e José Fernandes encontraram-se em Paris, na escola do bairro. Jacinto virou um entusiasta do progresso. Ele acreditava e dizia que o homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado. Para ele