A CASA ONDE A FOME MORA

424 palavras 2 páginas
A CASA ONDE A FOME MORA
Antônio Carlos

Eu de tanto ouvir falar dos danos que a fome faz, um dia sai atrás da casa onde ela mora, passei mais de uma hora, rondando uma favela por gueto beco e viela, mas voltei desanimado aborrecido e cansado sem ter visto o rosto dela.
Vi a cara da miséria zombando da humildade, vi a mão da caridade num gesto de um mendigo que dividia o abrigo a cama e o travesseiro com um velho companheiro que estava desempregado, vi da fome o resultado, mas dele nem o roteiro.
Vi num barraco de lona, na esperança um rápido brilho nos olhos tristes do filho de um pai abandonado, primo carnal do pecado, irmãos dos raios da lua, com a carcaça semi-nua, tatuado de caliça, pedindo um pão de justiça do outro lado da rua.
Via gula pendurado no peito da precisão, vi pedidos de perdão pelos iníquos quebrados, vi sonhos despedaçados, vi o tridente da dor, mas nem de longe eu vi a cor da casa onde a fome mora.
Passei a noite acordado, sem saber o que fazer louco, louco pra saber onde a fome residia e porque naquele dia ela não tinha ido na favela, e qual o segredo dela que a tantos milhões pisava, amolecia e matava mas ninguém matava ela.
Quando o dia amanheceu, sai de novo atrás dela. Mas não naquela favela, fui procurar num sobrado que tinha do outro lado onde morava um sultão, quando pulei o portão a fome estava deitada em uma rede estirada no alpendre da mansão.
Eu pensava que a fome fosse magricela e feia, porém era uma sereia de corpo espetacular, e quem iria culpar aquela linda princesa de tirar o pão da mesa dos subúrbios das cidades e pisar sem piedade numa criança indefesa?
Engoli três vezes nada, e perguntei o seu nome, respondeu-me: sou a fome que assola a humanidade, ataco vila e cidade, deixo o campo moribundo, eu não descanso um segundo me escondendo e zombando dos governantes do mundo. Alimento-me das obras que são superfaturadas, das verbas que são guiadas pros cofres dos marajás.
Escondo-me na fumaça do canhão, nos supérfluos da

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