Vladimir safatle - curso completo sobre a 'fenomenologia do espirito', de hegel [30 aulas] [filosofia - usp] aula 05

4514 palavras 19 páginas
Curso Hegel
Aula cinco

Continuamos hoje com a leitura da Introdução à Fenomenologia do Espírito. Na aula passada, comentei os quatro primeiros parágrafos da Introdução. Eu havia insistido com vocês que a Introdução já começa por tematizar diretamente uma experiência filosófica que será o motor da experiência fenomenológica do saber. Ela diz respeito àquilo que pode ser chamado de “modificação da gramática filosófica”. Para que haja uma ciência da experiência da consciência, faz-se necessário uma profunda mudança na gramática filosófica que suporta a consciência que procura apreender cientificamente tal experiência. Por “gramática filosófica” podemos compreender o conjunto de pressupostos não problematizados que serve de orientação para o pensar e para a constituição de seus modos de encaminhamento. De uma certa forma, ela é o campo de pressuposições de uma sintaxe para o pensar, campo este tão naturalizado que normalmente aparece ao pensar como uma “representação natural”. Vimos, então, como Hegel procurava partir da necessidade de problematizar aquilo que se colocava em seu tempo como representação natural do pensar. Criou-se um modo natural de pensar que produz certas convicções, começava afirmando Hegel. Parece natural, por exemplo, ver no conhecer ou um instrumento ativo de transformação da Coisa ou um meio passivo de participação com a Coisa. Parece também natural compreender o erro como uma inadequação entre pensar e o ser resultante de postulados equivocados do pensar. Tais representações naturais chegam a determinar que entre o conhecer e o absoluto passa uma nítida linha divisória, como se o objeto do conhecer humano fosse, naturalmente, o que é finito. Vimos ainda como, para Hegel, esta representação natural do pensar era, na verdade, uma figura da filosofia kantiana. O que não deve nos estranhar se lembrarmos que Hegel compreende a filosofia kantiana como reflexão filosófica da essência da modernidade com suas cisões e impasses. Partindo deste

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