Vida de Gari
Viver em uma cidade limpa é o desejo e o direito de todo cidadão e são garis os responsáveis por garantir esse direito aos moradores. Apesar de indispensáveis para a manutenção de uma cidade, eles não recebem o devido valor por seus serviços, tanto financeiramente quando socialmente. O gari enfrenta o drama da “invisibilidade pública”, onde as pessoas só enxergam a função social e não o ser humano. Eles passam em média oito horas por dia limpando as ruas ou correndo atrás de caminhões de lixo para receber um salário médio de R$400 por mês. O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou um mês como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. “Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão”, diz. Ele ainda disse que é como se os trabalhadores braçais fossem seres invisíveis e sem nome, tratados como simples “coisas”.
“Limpa, limpa com diligência anônimo e ignorado por toda gente.
Em seu trabalho duro e essencial
Enfrenta o sol forte e muito quente.
Chuva de outono a verão tão persistente!” (Vida de Gari - Tunim)
Essa é a vida do gari, acordar cedo e ir trabalhar arduamente e sem descanso para manter a cidade limpa para as pessoas que os evitam como se tivessem uma doença contagiosa. Passamos por eles todos os dias e, muitas vezes, com a cara virada, seja por não querer “ser contaminados” ou pela simples vontade de ignorar a realidade. E, de cabeça baixa, eles seguem limpando a sujeira alheia; “Ser ignorado é uma das piores sensações que existem na vida!”, afirmou Fernando Braga. Como se não bastassem à humilhação social e precariedade financeira, eles ainda sofre pelas péssimas condições trabalhistas. “Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha