UM ESTUDO SOBRE ONGS E SUAS RELAÇÕES DE ‘ACCOUNTABILITY
As ciências sociais têm apresentado, ao longo do tempo, diferentes respostas ou modelos à questão da ordem social que podemos grosseiramente resumir ou simplificar pensando nas categorias de sociedade, mercado e Estado1, ou pelos seus respectivos princípios orientadores: de sociedade espontânea, competição dispersa e controle hierárquico2. Entretanto, mesmo que um desses possa ser identificado como dominante em um dado período, ou para um grupo de atores, quase todos conceberiam a questão da ordem nas sociedades modernas como uma mistura entre os três princípios (Schmitter & Streeck, 1985; Wolfe, 1989).
Ainda assim, nos últimos dois séculos as principais categorias usadas pelas ciências sociais para explicar a ordem social foram o Estado e o mercado, ou seja, essas duas abstrações guiaram o pensamento moderno que tratou a história das sociedades democráticas a partir de dois períodos principais. O primeiro período coincide com a separação entre o Estado e o mercado e, de acordo com o ponto de vista liberal da época, o último era visto como elemento progressivo (Reis, 2003). Se esse período foi caracterizado pela expansão de mercados em comunidades preexistentes no século XIX, o segundo período é caracterizado pela expansão do Estado intervencionista no século XX (Reis, 2003; Schmitter & Streeck, 1985; Pérez-Díaz, 1993).
A bem sucedida fusão entre Estado e nação, especialmente no Oeste Europeu, levaria à sobreposição das fronteiras do Estado às da sociedade. Diversos estudos que
1 Esta divisão remete àquela tratada por Schmitter e Streeck (1985). Esses autores fazem a distinção entre três ordens: a ordem comunitária, na qual as escolhas e preferências dos atores são interdependentes e se baseiam na busca da satisfação conjunta; a ordem do mercado, na qual as ações dos atores são independentes e, já que esses atores estão em competição, uma ação em específico não pode exercer impacto na distribuição da satisfação e a ordem do Estado, na qual os