Tradução Oscar Mendes O Corvo E.A. Poe

1061 palavras 5 páginas
O Corvo
Poema de Edgar Alan Poe
Tradução de Oscar Mendes & Milton Amado

Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria, a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais, e, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído, tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar.
"É alguém" - fiquei a murmurar - "que bate à porta, devagar; sim, é só isso e nada mais."
Ah! claramente eu o relembro! Era no gélido dezembro e o fogo, agônico, animava o chão de sombras fantasmais.
Ansiando ver a noite finda, em vão, a ler, buscava ainda algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora
- essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora e nome aqui já não tem mais.
A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina, arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais.
De susto, em pávida arritmia, o coração veloz batia e a sossegá-lo eu repetia: "É um visitante e pede abrigo.
É apenas isso e nada mais."
Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim:
"Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito aí fora esperais; mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido, que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta, assim de leve, em hora morta." Escancarei então a porta:
- escuridão, e nada mais.
Sondei a noite erma e tranqüila, olhei-a fundo, a perquiri-la, sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.
Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quedo, só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia) e foi: "Lenora!"
E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: "Lenora!"
Depois, silêncio e nada mais.
Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente, mais forte, o ruído recomeça e repercute nos vitrais.
"É na janela" - penso então. "- Por que agitar-me de aflição?
Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento, o vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento.
É o vento só e nada mais."
Abro a janela e eis que, em tumulto, a

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