Trabalhos facul
Não há dúvidas de que o termo “trabalho” é um dos mais centrais da Modernidade, até o ponto de a obra de autores tão definitivos dessa época, como Adam Smith ou Karl Marx, girar em torno dele e de seu significado. O trabalho chegou a se converter em um dos temas fundamentais das Ciências Sociais, não apenas da Economia, mas também da Sociologia ou da Psicologia Social, dando lugar a uma denominada Faculdade de Ciências do Trabalho, na Espanha. Além disso, o trabalho tem sido um conceito tão crucial e definido da sociedade ocidental dos dois últimos séculos, que a maioria das pessoas acredita atualmente que ele é algo natural ao homem, que a própria existência do ser humano implica necessariamente algo que chamamos “trabalho”. No entanto, isso não é assim. Claro que o ser humano sempre, como qualquer outra espécie animal, teve que desenvolver algum tipo de atividade a fim de buscar o sustento para si mesmo e para seus próximos. Mas isso não é necessariamente trabalho. O conceito de trabalho é algo mais complexo do que a mera atividade de conseguir o sustento. A prova da dificuldade em defini-lo é que o Dicionário da Língua Espanhola da Real Academia, em sua última edição de 2001, nem sequer o faz, somente se atreve a dizer algo tão vago como “ação e efeito de trabalhar”, como primeira acepção, e “ocupação remunerada”, como segunda, cujo caráter extremamente restrito é evidente. E para “trabalhar” não diz nada mais do que: “Ocupar-se com qualquer atividade física ou intelectual”, o que também não esclarece muito. Como dizia Wittgenstein, não é o dicionário, mas o uso das palavras é que dá o seu significado real, uso que depende de sua história. Como consequên-
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anastasio ovejero bernal
cia, o conceito de trabalho, como logo veremos, surge com a Modernidade, passando rapidamente a fazer parte dela. Surge, principalmente, a partir da conjunção destes três fenômenos fundamentais