Trabalho

1. UMA IMAGEM AMPLIADA

Quase todas as sociedades mediterrâneas têm uma representação do mundo “androcêntrica”, ou seja, que põe o homem ao centro de todas as coisas. Essa representação pode ser maior ou menor em certas sociedades, ela atinge uma forma extrema entre os bárbaros da Cabília. Bourdieu analisa esta sociedade em particular, se utilizando dela para obter uma imagem ampliada do que acontece em nossas próprias sociedades. O primeiro ensinamento desta análise é que aquilo que para os cabilas é extremamente natural é na realidade uma construção social que estabelece a dominação dos homens. Seu jeito de pensar o mundo cria associações entre coisas, atividades ou movimentos e os elementos masculino ou feminino. Por exemplo, eles opõem o “externo”, ao “interno”, o “acima” ao “abaixo” e o “cheio” ao “vazio”, sendo sempre o primeiro termo masculino e o segundo feminino. Este sistema de pensamento tem consequências muito concretas sobre a divisão do trabalho e a maneira como o tempo e o espaço são estruturados na sociedade. Este pensamento cria diferenças entre homens e mulheres e põe essa diferença na base do pensamento e da organização social. Este truque de poder só é possível porque as mulheres adotam a maneira de pensar dos homens, submetendo-se aos homens e seu pensamento dominador. Nas palavras de Bourdieu: “quando os dominados aplicam aos que os dominam esquemas que são produtos da dominação (...) seus atos de conhecimento são inevitavelmente atos de reconhecimento, de submissão”. A sociedade tende então a produzir homens e mulheres, estes para serem viris, e aquelas para serem femininas. A transformação progressiva dos indivíduos se efetua, essencialmente, através da divisão das tarefas e do espaço, assim como pelos exemplos dados às crianças pelos adultos. Há todo um sistema de “adestramento” dos indivíduos voltado à sustentação desta organização social: impõe-se diferenças na vestimenta, no corte de cabelo e no porte adequado em