Tolerar o Intoleravel

Em seu capítulo sobre como tolerar o intolerável, Dejours trata de um problema que gira em torno de uma lacuna lógica na percepção das pessoas a respeito do desemprego. Por um lado, a população empregada teme a possibilidade do desemprego, encarando-o como uma possível injustiça e por outro lado, ao olhar para a situação das pessoas já desempregadas, entendem este fenômeno como uma eventualidade to destino, algo indigno de protestos e revoltas. Até problemas como epidemias e doenças, que tem uma causa menos humana são mais cobrados no cenário político.
O curta-metragem ilha das flores, por sua vez, explora de uma forma impactante e inovadora o problema central desse sistema econômico que tem como base o dinheiro. Tendo em vista que o dinheiro pago por coisas é um valor estipulado em função de diversos fatores, como o custo total do produto e a relação de oferta e demanda, o lucro é, portanto, a diferença entre o valor que o produto custou de fato e o valor o qual uma pessoa aceita pagar por ele. O lucro faz com que o dinheiro aumente em função dessa diferença, que é na realidade apenas um conceito não tangível, uma ilusão.
Ao escolher uma narrativa diferente, por meio de conceitos, o diretor tem como objetivo trazer à mente do telespectador, um julgamento real de cada categoria explicada por ele. Sugerindo assim, implicitamente, que a sociedade, por estar inserida em um sistema fortemente repressor e detentor do poder, tem simplesmente se abstraído de conceitos ontológicos e valores reais da existência.
A ideia defendida por Dejours é que esta lacuna lógica de percepção social que acontece no caso do desemprego é resultado da banalização do mal, tal como ocorreu, segundo Hanna Arendt, na Alemanha nazista. Esta ideia também pode ser usada para explicar o contraste apresentado pelo filme Ilha das Flores, onde seres humanos precisam comer o alimento que sobrou de porcos.