TEXTO MAQUIAVEL

Um príncipe não deve temer a fama de cruel quando se trata de manter os súditos unidos e leais, pois com bem poucos exemplos demonstrará ser mais clemente que aquele que, por excesso de clemência, deixam que a desordem impere, dando origem aos crimes e às rapinas que costumam prejudicar uma sociedade inteira; por outro lado, o rigor de um príncipe considerado cruel recai apenas sobre determinados indivíduos. E dentre todos os príncipes, é ao príncipe novo que é impossível fugir à reputação de cruel, porque nos Estados novos os perigos são muitos.
O principado é estabelecido pelo povo ou pelos grandes, segundo a oportunidade que tiver uma dessas partes; percebendo os grandes que não podem resistir ao povo, começam a dar reputação a um dos seus elementos e o fazem príncipe, para poder, sobre sua sombra,satisfazer seus apetites. O povo também, vendo que não pode resistir aos grandes, dá reputação a um cidadão e o elege príncipe para estar defendido com sua autoridade.
Daí nasce a seguinte questão: é melhor ser amado ou temido? A resposta seria que as duas vocações são necessárias; mas, como é difícil ser as duas coisas ao mesmo tempo, é mais seguro ser temido que amado quando é preciso renunciar a uma das duas, porque, de modo geral, é possível dizer que os homens são ingratos, volúveis, simuladores e dissimuladores, fogem do perigo e são sempre ávidos por ganhos; e, enquanto favorecidos, oferecem ao princípe o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, conforme disse anteriormente, a necessidade esteja longe deles. Mas quando ela se aproxima, eles se revoltam. E o príncipe que se apoiou em suas promessas, totalmente despreparado de outros meios de defesa, cai na ruína, pois nas amizades adquiridas por meio de favores e não com grandeza e nobreza de alma – e, por conseguinte, compradas – não se pode confiar em momentos de necessidade. Além disso, os homens têm menos escrúpulos em ofender alguém que se faça amar do que em ofender aquele que se faz temer,