Sá a veredrasta

641 palavras 3 páginas
Em 1932, Huxley publicou um livro visionário. Nele descreveu, com grande minúcia, uma sociedade ideal onde, para se manter a coesão entre os indivíduos, se recorria à engenharia genética e à educação.

Sobre a educação, há nesta obra passagens magníficas que, bem vistas as coisas, em 2007, nos parecem reais e, até, razoáveis. Deixo aqui uma delas (páginas 229 a 230), o leitor poderá descobrir outras…

“– Mas porque está ele proibido? – perguntou… emocionado por se encontrar em frente de um homem que tinha lido Shakespeare, esquecera-se momentaneamente de todas as outras coisas.
– Porque é velho, eis a razão principal. Aqui não temos o culto das coisas velhas.
– Mesmo que sejam belas?
– Sobretudo quando são belas. A beleza atrai, e não queremos que as pessoas sejam atraídas pelas coisas antigas. Queremos que amem as coisas novas.
– Mas as novas são tão estúpidas, tão horrorosas! (…) Bodes e macacos! – Só repetindo as palavras de Othello pôde manifestar convenientemente o seu desprezo e o seu ódio (…) – Porque não lhes dás a ler o Othello?
– Já lhe disse: é velho. E, por outro lado, eles não compreenderiam (…).
– Pois bem! Então (…) qualquer coisa nova semelhante ao Othello que eles sejam capazes de compreender.
– Aí está o que todos nós há muito tempo desejamos escrever (…).
– E é o que você nunca escreverá (…) porque se a obra se parecesse realmente com o Othello ninguém estaria em condições de a compreender. E, se fosse coisa nova, não se podia parecer nada com o Othello.
– Porque não?
– Porque o nosso mundo não é o mesmo que o de Othello (…), não se podem fazer tragédias sem instabilidade social. O mundo é estável agora. As pessoas são felizes, conseguem o que querem e nunca querem aquilo que não podem obter (…). Sentem-se bem, estão em segurança (…), vivem numa serena ignorância da paixão e da velhice (…).
A liberdade! – pôs-se a rir – O senhor espera que (…) saibam o que é a liberdade!?
– Apesar de tudo, [Othello] é belo (…).
– Não há dúvida

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