Sociologia
Arthur Soffiati*
Só com a descoberta da História – mais exatamente com o despertar da consciência histórica no cristianismo judaico e seu desenvolvimento com Hegel e seus sucessores – só através da assimilação radical deste novo modo de ser representado pela existência humana no Mundo foi possível ultrapassar o mito. Mas não é certo que o pensamento mítico tenha sido abolido (...) ele conseguiu sobreviver, embora radicalmente modificado (se não perfeitamente camuflado). Mircea Eliade.
Tanto Claude Lévi-Strauss quanto Mircea Eliade, cada qual a seu modo, chamam a atenção para o aspecto estrutural, universal, permanente e sobre-humano do mito nas sociedades humanas. José Murilo de Carvalho salienta, porém, que "embora heróis possam ser figuras totalmente mitológicas, nos tempos modernos são pessoas reais."[1] Da nossa parte, acrescentaríamos que, nas sociedades tradicionais, as personalidades míticas assumem a condição divina com aparência humana, numa verdadeira operação de antropomorfização, ao passo que, nas sociedades modernas, realiza-se o procedimento inverso de divinizar o herói. Mais ainda: o processo de heroificação pode envolver seja um indivíduo seja uma instituição. Foi o que, segundo nos parece, sucedeu ao Departamento Nacional de Obras e Saneamento - DNOS, particularmente na região norte do Estado do Rio de Janeiro, onde sua ação vai revestir-se de um caráter cosmogênico, civilizatório e mantenedor da ordem.
A modernização da agroindústria açucareira e o caos
Baseado em dados fornecidos por Cazal e Pizarro, bem como em observações pessoais, o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, visitando a cidade de Campos dos Goytacazes, em 1818, informa-nos que o distrito contava com cerca de 56 usinas de açúcar, no ano de 1769. Em 1778, esse número se elevara a 168. Entre 1779 e