Sociologia
Chantal Mouffe** Hoje os temas da ‘cidadania’ e da ‘comunidade’ vêm sendo discutidos em muitas áreas da esquerda. É sem dúvida uma conseqüência da crise da classe política e indica a consciência crescente da necessidade de uma nova forma de identificação, em torno da qual se organizam as forças em luta por uma radicalização da democracia. Eu realmente concordo que a questão da identidade política é crucial e acho que tentar construir identidades "cidadãs" deveria ser uma das tarefas importantes da política democrática. Mas há muitas visões diferentes de cidadania e as questões centrais estão em jogo na disputa entre elas. O modo como definimos a cidadania está intimamente ligado ao tipo de sociedade e de comunidade política que queremos. Como deveríamos compreender a cidadania, quando nosso objetivo é uma democracia radical e plural? Um tal projeto requer a criação de uma cadeia de equivalência entre as lutas democráticas, e, portanto a criação de uma identidade política comum entre os sujeitos democráticos. Para que a interpelação dos "cidadãos" seja capaz de cumprir este papel, que condições ela deve atender? Estes são os problemas que levantarei, argumentando que a questão-chave é como conceber a natureza da comunidade política em condições democráticas modernas, considero que precisamos ir além das concepções de cidadania, tanto da tradição liberal quanto da tradição cívico-republicana, ao mesmo tempo em que nos baseamos em seus respectivos pontos fortes. Para situar minhas reflexões no contexto das discussões atuais, começarei por me referir ao debate entre os liberais kantianos e os assim chamados "comunitaristas". Desta maneira, espero trazer à tona a especificidade de meu enfoque, tanto política quanto teoricamente.
Liberalismo versus republicanismo cívico O que realmente está em disputa