Sobrado

1046 palavras 5 páginas
Um Sobrado e uns olhos.

Duas bestas e um humano.
As bestas?Tinham o corpo com o formato semelhante aos de nós seres humanos, mas sua pele tinha em toda a extensão largas escamas e seus antebraços e coxas tinham aparência viscosa como a das cobras. As duas bestas possuíam dois grandes chifres cada, meio curvados, e suas cabeças... Tinham cabeça de bode. Um bode com cara vermelha. O vermelho vivo trazia consigo, no corpo todo dessas bestas, manchas negras. Essa mistura de vermelho vivo com negro fazia despertar, lá no fundo do coração, a sensação de que a alegria sumira do mundo.
O humano? Era o meu amigo.
Eu? Atônito! Mas não vou mentir dizendo que a cena não estava satisfazendo meu desejo de presenciar as figuras do inferno, que tanto me fascinavam no meu imaginário. De jeito nenhum. Risos.
Eu vi as duas aberrações arrastarem à força o meu amigo para aquele cômodo de pouca luz e fétido. Viraram-no de costas e rasgaram sua calça. O jovem gritava desesperadamente e se debatia, tentando se soltar, mas em vão. Foi levado ao chão, de bruços. Rapidamente uma das bestas imobilizou os braços dele, colocando-os atrás das costas. Sua calça estava no chão e sua bunda à vista. De relance eu vi as lágrimas correrem seu rosto. A outra besta se ajoelhou atrás dele e agarrou seus quadris. Meu amigou lançou um grito derradeiro com todas as suas forças. Quando percebi, eu já estava em outra parte do mesmo edifício onde meu amigo estava tendo o pior momento de sua vida – mas, como consolo, talvez fosse o último.
Estava agora em uma espécie de ante-sala. Tinha o mesmo aspecto do cômodo onde eu estive momentos antes. Vi chegarem mais bestas horrendas. E adivinha só, trazendo mais vitimas. Havia homens. Havia mulheres. Havia crianças. Estas não gritavam nem choravam. Havia sim uma expressão triste, mas não ofereciam resistência. Era como se aceitassem aquele túnel lúgubre do qual estavam perto. Das mulheres, lembro claramente de uma. Ela chegou chorando. Esta sim relutava.

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