Ser humano
O que é o ser humano?
Olinto A. Pegoraro1
Filósofo
In: Carneiro, F. (Org.). A Moralidade dos Atos Cientificos – questões emergentes dos
Comitês de Ética em Pesquisa, Rio de Janeiro, FIOCRUZ, 1999.
I – INTRODUÇÃO
Esta pergunta sempre formou um capítulo central das teorias filosóficas. Ela foi elaborada pelos gregos à luz da questão do cosmos, pelos medievais à luz de Deus
Criador, pelos modernos à luz da Ciência e hoje esta questão se coloca à luz dos atos tecnocientíficos. Cada vez mais a ciência aliada à técnica, intervém diretamente na estrutura radical do ser humano, tentando definí-lo cientificamente. De um ponto de vista tecnocientífico podemos dizer que o homem é seu genoma. É uma definição muito perto de ser cientificamente exata: o homem é a totalidade de seus gens mapeados e conhecidos em suas funções. Seria o homem somente isto? Deixou o homem de ser uma questão ontológica e teológica para reduzir-se a um desafio biológico? Que diz a ética?
A definição científica e laboratorial do homem parece bater de frente com a meta física, a psicologia e a ética. Este conflito, de fato, revela nossa ignorância sobre nós mesmos.
Max Scheller já dizia no início do século: "Na história de mais de 10.000 anos, pela primeira vez o Homem tornou-se problemático para si mesmo. O Homem não sabe mais quem ele é e se dá conta de não sabê-lo". Já não temos do Homem uma definição global e de aceitação universal como na Grécia e na Idade Média; mais gravemente, não sabemos definir o que é o ser humano embrionário ou fetal e o ser humano adulto em estado de inconsciência irreversível.
Por outro lado, já podemos manipular nossa estrutura genética a ponto de construir-nos num laboratório. Aqui a pergunta "o que é 0 ser humano?" pode ser substituída por esta outra: "o que queremos fazer de nós mesmos? ". A primeira pergunta é ontológica e a segunda tecnocientífica. À primeira vista, estas duas perguntas,