Romantismo
Analógos X
Ironia ROMÂNTICA
Na arte e Nafilosofia
Pedro Duarte de Andrade
Doutor em Filosofia pela PUC-Rio
Resumo: Esta apresentação estuda a tensão que caracteriza a busca pela verdade do pensamento dos primeiros autores do romantismo alemão, capitaneados por Friedrich Schlegel na virada do século XVIII para o XIX. Nesse contexto, a ironia apareceu como forma de dizer o absoluto: na arte, por trazer consigo o traço moderno da reflexão; e, na filosofia, pela oposição à clareza objetiva pretendida pelo sujeito do conhecimento. Ironia seria o emblema da quebra da pretensão de totalização do conhecimento tradicional, em prol do paradoxo, da contradição e da alternância como formas de dizer o absoluto.
Palavras-chave: Romantismo alemão, ironia, arte, filosofia.
Ironia é assunto difícil. Não só porque a expressão traz consigo longa história de determinações, desde Sócrates até Kierkegaard e depois. É difícil porque, se pensarmos bem, você, que agora põe os olhos sobre essas palavras, não deveria saber se o que elas dizem é sério. Basta suspeitar que são irônicas. Eis o poder da ironia. Ela desestabiliza o sentido do discurso. Está presente quando, sem querer enganar e sem estarmos errando, empregamos palavras cujo sentido é oposto ao da verdade que pretendemos dizer. Esse é o emprego da ironia como figura de linguagem, que aparece na retórica latina de Cícero ou Quintiliano. Supomos assim que o caráter irônico define-se pela intenção do autor, que depende do que ele quis ou não dizer. Mas, e se isso for pouco? Não pretendo, aqui, ser irônico. Mas será que basta esta confissão para que o sentido do que vem aqui escrito seja estável? Maurice
Merleau-Ponty, o filósofo francês contemporâneo, disse que “o sentido é sempre
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irônico”1, já que não é fixado, mas se move. Essa hipótese, talvez assustadora, foi a que defenderam, várias décadas antes, os primeiros românticos alemães.
No começo, eles destacaram a ironia