Resenha O homem e a Cultura
O essencial das discussões científicas incidiu antes sobre o papel dos caracteres e das dificuldades biológicas inatas do homem.
No século passado, pouco após o aparecimento do livro de Darwin, A Origem das espécies, Engels, sustentando a idéia de uma origem animal do homem, mostrada ao mesmo tempo que o homem é profundamente distinto dos seus antepassados animais e que a hominização resultou da passagem à vida numa sociedade organizada na base do trabalho; que esta passagem modificou a sua natureza e marcou o início de um desenvolvimento que, diferentemente do desenvolvimento dos animais, estava e está submetido não às leis biológicas, mas as leis socio-históricas.
À luz dos dados atuais da paleantropologia, o processo da passagem dos animais ao homem pode rapidamente traçar-se da seguinte maneira:
Trata-se de um longo processo que compreende toda uma série de estádios. Vai desde o aparecimento do pitecantropo à época do homem de Neanderthal inclusive. A biologia pôs-se, portanto, a “inscrever” na estrutura anatômica do homem a “história” nascente da sociedade humana.
Na realidade, a formação do homem passa ainda por um terceiro estádio, onde o papel respectivo do biológico e do social na natureza do homem sofreu nova mudança. É o estádio do aparecimento do tipo do homem atual ¾ o Homo sapiens. Apenas as leis sócio-históricas regerão doravante a evolução do homem.
Deste lado da fronteira, isto é, no homem atual, “acabado”, a atividade do trabalho não tem qualquer relação com a progressão morfológica1 ”.
Não queremos com isto dizer que a passagem ao homem pôs fim à ação das leis da variação e da hereditariedade ou que a natureza do homem, uma vez constituída, não tenha sofrido qualquer mudança. Na obra que consagrou à teoria da evolução, Timiriazev exprime esta idéia de uma maneira notável: “A teoria da luta pela existência detém-se no limiar da história cultural. Os progressos realizados na produção de bens materiais são acompanhados