Resenha: A revolução chilena e a ditadura militar

A vitória, em 1970, de Salvador Allende, candidato da Unidade Popular, para as eleições presidenciais no Chile à época, foi simbólica: Num período em que a América Latina era marcada por ditaduras militares, venceu um projeto de poder que visava a transição socialista no país por meio de uma série de transformações. A vitória de Allende foi possível a partir de uma conjuntura política muito particular, que configurava dissidências entre duas forças representativas da direita: O Partido Nacional e o Partido Democrata Cristão. À esquerda, a Unidade Popular vinha representando, como seu próprio nome já expressa, a união de importantes partidos representantes da classe trabalhadora: O Partido Comunista e o Socialista, ambos de larga trajetória política no país até então, e outros de menor, porém fundamental expressão, como o Partido Radical, caracteristicamente reformista, e o Movimento de Ação Popular Unitário (MAPU), esquerda que rompeu com a Democracia Cristã e o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), esse último apoiando a ascensão da Unidade Popular com ressalvas, colocando-se enquanto alternativa ao que denominavam uma característica política legalista e reformista da Unidade Popular, propondo uma postura política de dinâmica verdadeiramente revolucionária. A formação de frentes como a Unidade Popular já aglutinava uma trajetória bem consolidada no contexto político chileno; desde 1929, com a crise que se originou na quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, o Chile passou a desenvolver, paralelo à outros países latino-americanos, uma política ‘’ de industrialização de substituição de importações, que reforçou a importância dos trabalhadores industriais organizados e colocou a oligarquia fundiária tradicional na defensiva, clamando sempre pela manutenção da velha ordem. ‘’ (p.83). Essa dicotomia fortaleceu, especialmente durante 1938, a frente popular, que culminou na eleição de Pedro Aguirre Cerdas, candidato do Partido Radical apoiado pelos partidos