Resenha Trabalho

Um nordestino tentando se encontrar – humana e profissionalmente – no caos da cidade grande. Esse é um assunto que muitos já ouviram falar e que, por vezes, é tratado como clichê. “O Homem que Virou Suco” (1980) de João Batista de Andrade é um filme que conta essa história de uma maneira humanista. Deraldo (João Dumont) é um paraibano que foi para São Paulo em busca de uma vida melhor. É poeta e tenta fazer da sua poesia uma forma de sobrevivência. No entanto, é desprezado pelos que estão ao seu redor, acusado de não trabalhar, apenas “se divertir”, de ser vagabundo e irresponsável. A vida de Deraldo começa a mudar quando ele é confundido com Severino – um sósia seu. Severino era operário e assassinou o seu patrão por ter sido demitido. Era odiado pelos colegas de trabalho por ser um delator e por fazer oposição às greves em prol de melhores condições de trabalho. A partir de então, o protagonista inicia a sua saga de fuga da polícia, que acaba sendo a mesma saga da busca do “seu eu”. Ele trabalha em diversos lugares, desde grandes construções até em casa de famílias ricas.
Nesses espaços nos quais o nordestino transita, João Batista expõe os diversos problemas relacionados à segurança no trabalho – falta de equipamentos e roupas adequadas, além da não contratação de pessoas realmente capacitadas. Posteriormente, na mansão onde ele é “mordomo”, os problemas mostrados são os de cunho sociocultural: Deraldo é expulso do trabalho por dançar na piscina com a filha da patroa e seus amigos. Revoltado e “sem papas na língua”, o paraibano não abaixa a sua cabeça e reage a todos os maus-tratos que sofre de seus patrões. Essa personalidade, embora um tanto clichê por fazer referência à ideia de “nordestino ‘arretado’”, exibe um contraponto em relação àqueles que aceitam e se submetem ao sistema esmagador das grandes cidades. A personalidade nordestina também é um fator bastante enfatizado no filme. Em um curso de capacitação