Resenha, Roberto da Matta
RESENHA
DAMATTA, Roberto
(com João Gualberto M. Vasconcellos e Ricardo Pandolfi). 2010.
Fé em Deus e pé na tábua.
Ou como e por que o trânsito enlouquece no Brasil.
Rio de Janeiro: Rocco. 191 p.
Carolina Vasconcelos Pitanga1
Roberto DaMatta, em parceria com João Gualberto M. Vasconcellos e Ricardo Pandolfi, nos traz uma análise aprofundada sobre os comportamentos e atitudes vivenciados diariamente nas vias públicas das grandes cidades brasileiras. Tendo como parâmetro uma pesquisa realizada sobre o trânsito na capital do Espírito Santo, DaMatta aborda a questão do trânsito no Brasil, aproximando-o com a discussão feita anteriormente no livro A Casa e a Rua.
Os autores observam como a rua, concebida dentro de um contexto igualitário aberto a todos, pode se tornar hierarquizada e como a violência e a loucura dos condutores e pedestres têm crescido em decorrência disso. Considerando a dicotomia entre os valores da casa e os da rua, o livro considera o pressuposto de que, no Brasil, a utilização do carro como principal instrumento de transporte é seguido por uma série de concepções ligadas aos modelos aristocrático e individualista, personificados na ocupação do espaço público realizado por dona Carlota Joa1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFMA.
Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 15, vol. 22(1), 2011
quina (p.94). O carro faz com que os indivíduos não entrem em contato uns com os outros, mas por outro lado possibilita o poder da liberdade e a consequência disso é um cidadão repleto de direitos e vazio de deveres.
Longe de querer produzir uma obra sobre engenharia, ou sobre educação no trânsito, a proposta do livro é analisar os comportamentos dos indivíduos dentro dos carros, levando em consideração a dificuldade do brasileiro em cumprir leis, bem como a mentalidade hierárquica que classifica objetos e pessoas como superiores ou inferiores,