Racismo

9244 palavras 37 páginas
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Uma genealogia das imagens do racismo
MUNIZ SODRÉ
Drácula, bem o sabem os aficionados, não se reflete no espelho —logo, é sem imagem. O mito do vampiro tem sido persistente no imaginário contemporâneo, talvez porque indique, com alguma magia, a armação da cultura em construção de uma identidade. O conde Drácula é o inverso da identidade normalizada pela cultura pequeno-burguesa. E, para coroar todas as suas inversões antropológicas, não aparece no espelho.
Mais uma razão, assim, para a atualidade desse mito. Na sociedade da imagem (anagrama de magia) ou dos dispositivos de visão, o sujeito só existe se aparece no "espelho", isto é, se tem condições socioculturais de ter imagem publicamente reconhecível.
Passados 300 anos de Zumbi dos Palmares, os ecos brasileiros dessas discussões primeiro-mundistas em torno de quociente de inteligência, superioridade ou inferioridade de raças parecem-me abrigar, na verdade, uma outra questão, que pode ser anunciada da seguinte maneira: Qual o quociente de "aceitabilidade" da imagem do homem de pele escura numa ordem social que ilumina suas pretensões planetaristas e hiper-racionalistas com tonalidades branco-européias?

Para responder a essa questão, é preciso remontar historicamente a "fontes" de imagens coletivas do homem negro no Brasil. Não qualquer fonte, certamente, mas aquelas bem acolhidas pelas elites e pelos aparatos de reprodução das idéias (escolas, manuais escolares, academias, obras literárias etc) postos sob a égide do Estado nacional.

Sabe-se que todo Estado nacional procura instituir uma "comunidade nacional" na base de uma etnicidade fictícia —e se entende o "fictício" não como mera ilusão, mas como a montagem de um efeito institucional com sentido histórico preciso. A partir de critérios linguísticos e biológicos, o Estado "etniciza" a população, essencializando as suas representações por meio de ideologias nacionalistas ou mitos de identidade baseados em

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