Quando viver ameaça a ordem urbana
Trabalhadores urbanos em Manaus (1890/1915)
Francisca Deusa da Costa
Comentário da Obra
O trabalho apresentado pela professora Francisca Deusa Sena da Costa é de grande importância na discussão a respeito da história da cidade de Manaus.
A autora descreve como a virada do século XIX para o XX apresentou-se para Manaus, com vigor, poder e espírito expansionista nunca visto antes na história da cidade. O tempo áureo da borracha que possibilitou que ocorressem grandes mudanças em Manaus, filtradas e lideradas pela elite da época e por seus idealizadores que reconfigurariam a cidade em moldes europeus, regulando hábitos, usos e costumes forjando uma cultura urbana, alterando, impondo ou adequando, promoveu num primeiro momento, uma segregação social não do espaço físico, mas da visibilidade urbana.
Em contrapartida, os trabalhadores e outros segmentos sociais populares que se tentou segregar, comenta a autora, reagiam a tal processo e eram vistos como transgressores desta nova ordem urbana implantada, gerando leituras do poder público quando ás ações necessárias para disciplina-los, inclusive no espaço e nas relações de trabalho.
O período de remodelação de Manaus trouxe novos olhares sobre a cidade, uma mudança de identidade e representações diferenciadas dos outros espaços por parte de seus próprios habitantes especialmente suas autoridades e elites. A Belle Époque manauara passou a ser representada por segmentos da sociedade local como a Manaus “moderna e civilizada”.
Mas até que ponto os ideais em questão – como outros – influenciaram, foram influenciados e reelaborados no cotidiano da cidade? Em que medidas segmentos sociais – especialmente populares – vivenciaram esse processo sendo eles vistos como contrastantes do ufanismo de uma cidade que se considerava moderna e civilizada, e quais os significados e efeitos de normatizações que buscavam incutir a modernidade e civilização aos pobres urbanos