Psique - Melancolia

Quando um ente querido falece, parte de nós vai embora, justificando o luto. No melancólico, o luto não é superado, visto que a separação de algo que se desfez de seu próprio corpo não é algo aceito. A cena primária desta observação pode ser descrita na infância, quando a criança deve “dar tchau para o cocô”, estando consciente de que uma parte de si vai embora. O desprendimento é observado quando não há mais indícios de que existe uma perturbação, por parte do sujeito, desta separação. Suponho que a partir desta cena primordial, o acometido pela melancolia não consegue admitir que o objeto que se foi, que fazia parte dele, não mais voltará. Portanto, diante desta resistência do luto, o objeto que ‘morreu’ torna-se um objeto identificatório, pois o melancólico generaliza a falta que sente do objeto à si próprio, age e sente falta de si, como se tivesse morrido. Existe a identificação com o objeto separado (Eu = objeto; Eu = luto; Eu = morte). O sentimento de tristeza profunda funde-se com a agressão ao objeto que se foi. Este objeto sendo o próprio sujeito torna-se alvo da agressão, de modo que afirmações como: “Eu sou infeliz/ não sirvo para nada/ não estou aqui/ estou morto” são demonstrações claras da psicotização da condição da tristeza. A identificação com o objeto que morreu torna o melancólico propenso ao suicídio. A morte imaginária deu-se, o que resta seria a morte real, a morte do corpo. O suicídio traria a sensação de alívio momentâneo, seria uma materialização do nada.
“Enquanto o sujeito, no trabalho do luto, consegue desligar-se progressivamente do objeto perdido, na melancolia, ao contrário, ele se supõe culpado pela morte ocorrida, nega-a e se julga possuído pelo morto ou pela doença que acarretou sua morte. Em suma, o eu se identifica com o objeto perdido, a ponto de ele mesmo se perder no desespero infinito de um nada irremediável”.