Prole
Os que experimentam o mistério são os místicos. A experiência do mistério não se dá apenas no êxtase, mas também cotidianamente, na experiência de respeito diante da realidade e da vida. Quem não se extasia diante de uma criança que nasce? Quem não se enche de profundo respeito face a um rosto sofrido e curtido de um indígena do altiplano da Bolívia? Quem não emudece diante dos pés grossos e calosos do camponês nordestino que trabalha no sertão árido de sol a sol? Existe aí uma sacralidade que se impõe por ela mesma.
A mística não é, pois, o privilégio de alguns bem-aventurados, mas uma dimensão da vida humana à qual todos têm acesso quando descem a um nível mais profundo de si mesmos; quando captam o outro lado das coisas e quando se sensibilizam diante do outro e da grandiosidade, complexidade e harmonia do
Universo. Todos, pois, somos místicos em certo nível.
Os místicos dão nome ao mistério. É sua ousadia, pois o mistério é inominável. Chamam-no de deus,
Atma, Tao, Javé, El, Pai, etc. não importa o nome. Será sempre uma etiqueta para o sem-nome. A partir dessa experiência de nomear o inominável, o mestre chinês Chuang Tzu escrevia, séculos antes de Cristo:
O Tao é um nome que indica, sem definir. O Tao está para além das palavras e para além das coisas.
Não se exprime nem por palavras nem pelo silêncio. Onde não existe nem mais palavras nem silêncio, o Tao é apreendido.
Antes de tudo está a experiência do mistério, a experiência de Deus. Somente depois vem a fé. A fé não é, em primeiro lugar, a adesão a uma doutrina, por mais revelada e sobrenatural que se apresente.
Quando isso ocorre, a “fé” tem as características da ideologia, vale dizer, de uma idéia ou convicção inculcada nas