Projetos de leitura

Memórias de vovó.

Vovó está sentada no sofá, analisa a televisão, e me observa mexendo no computador. Certamente não compreende o que aquele objeto estranho faz, mas aceita. Afinal, são coisas da época.
Então, começa a falar dos tempos em que morava no campo, do verdadeiro sinônimo de vida no sertão. Quando termina sua narrativa, se põe a admirar a TV novamente. Como se aquilo fosse melhor do que sentar na hora da sesta numa cadeira de balanço, na varanda do sítio, ouvindo o canto das cigarras. Reproduzo suas narrativas em minha mente, e concluo: Sinto falta.
Mas falta de quê? Do que nunca conheci, nem presenciei?
Acho que é falta de tudo aquilo que em outrora era tão presente no sertão.

As famílias queimadas de sol, que tiravam seu sustento de suas próprias terras. Pequenas plantações de café, feijão, alface e coentro. Ainda existentes? Sim, mas raras.
Brincar no quintal sem medo de bactérias. Comer goiaba, caju, jabuticaba, em cima da árvore. Correr livre, pés descalços, pelas poeirentas estradas de terra batida, que abrigavam taperas.
Comprar querosene na bodega de seu Zé pra acender o candeeiro. A balança, sempre disponível, com os pesos meticulosamente enfileirados em ordem decrescente. Pais de família a visitavam sempre pra prosear, contar causos, feitos, ou se não, apenas beber “um quarto de cana”.
Buscar água no riacho, com jarro de barro na cabeça, lá pelas tantas da noite e no escuro. Driblando receios, superando limites.
Casas de pau a pique feitas pelas mãos de toda família, criança brincando na argila, mãe brigando, pai sorrindo da peraltice.
Banho de açude e pescaria. Piaba e traíra era banquete junto com a fava cozida. Galinha cabidela, ensopado de pato, feijão verde e maxixada, sempre presentes no cardápio; e os ingredientes eram obviamente tirados do roçado, ou das criações no quintal. Criançada comia de lamber os beiços, e depois corria pra brincar na capoeira;
Comadre Florzinha, Caipora, Curupira e Saci. Agulha se perdeu, feijão