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Primo Levi - Se Isto é um Homem

Há umas semanas, resolvi debruçar-me sobre este livro de carácter autobiográfico do italiano Primo Levi (de quem também tenho que ler, um destes dias, o "A Tabela Periódica", eleito pela Royal Institution of Great Britain como o melhor livro de ciência de sempre) e ainda bem que o fiz.
No final de 1943, na Itália de Mussolini, Primo Levi, judeu de nascimento e químico de profissão, é capturado pelas forças do regime. Uns meses depois, já em 1944 é, juntamente com centenas de seus compatriotas, colocado num vagão e transportado até à Polónia, para as imediações de um lugar que, poucos anos mais tarde, se tornaria horrivelmente célebre: Auschwitz.
Este é, provavelmente, o relato mais acutilante e mais sóbrio dos que já li acerca deste período histórico, mesmo porque nunca tinha lido nenhum de um sobrevivente de Auschwitz. Mas o que o distingue mesmo de outros relatos da época é o tom em que é relatada esta experiência inimaginável: ao invés de recorrer ao melodrama e apelar à simpatia do leitor, Levi nunca perde a sobriedade nem a objectividade do discurso, mesmo enquanto relata as condições de vida (ou nem isso) abjectas do Lager e a crueldade que nos parece hoje quase inimaginável dos seus captores. Não confundam isto, no entanto, com uma descrição fria: é um discurso rico em humanidade, apenas não tenta manipular as emoções do leitor.
Este é um livro essencial, não para quem se interessa pela temática da II Guerra e do Holocausto, mas para quem se interessa de todo pela condição humana. Sem recorrer à demonização dos alemães nem à canonização dos prisioneiros, Primo Levi dá-nos talvez um dos retratos mais fiéis e brutais do que foi e de como foi a vida em Auschwitz e do processo de desumanização levado a cabo pelos nazis nestes locais.
Aparentemente este livro é normalmente vendido em conjunto com o livro seguinte do autor, "A Trégua", sobre o período imediatamente a seguir ao fim da guerra e o seu regresso a casa. No