Porque ensinar variação lingupistica

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Por que ensinar variação linguística em sala de aula?
Escrito por Stella Bortoni
Qui, 26 de Maio de 2011 20:55

Estamos atravessando, nas últimas semanas, um céu de turbulências na área de ensino da língua portuguesa. A imprensa brasileira estranhou o tratamento dado à variação linguística no livro didático, “Por uma vida melhor”, distribuído pelo MEC, no Programa Nacional do Livro
Didático – PNLD - a escolas que ministram cursos de EJA, destinados a jovens com idade defasada em relação à série escolar e a adultos não alfabetizados ou semialfabetizados. No capítulo em que os autores escrevem sobre as diferenças entre a modalidade escrita da língua e a comunicação oral espontânea, trazem os exemplos de concordância verbal que geraram discussão. Ao comentar o enunciado “nós pegamos o peixe”, afirmam que “na variedade popular, contudo, é comum a concordância funcionar de outra forma: nós pega o peixe”.

Houve quase unanimidade na reação da imprensa, que criticou a referência à concordância não-padrão. Os jornalistas a consideraram uma metodologia vitanda, que ensinaria o português errado. Por outro lado, muitos linguistas, e até mesmo a Associação Brasileira de Linguística, se apressaram em mostrar que a referência à variação no português do Brasil é salutar, porque de fato esses modos de falar são frequentes na nossa sociedade. Argumentavam eles que a linguística não é uma disciplina normativa ou prescritiva, é uma ciência social que descreve a língua como é efetivamente usada. Contudo, uma pergunta que emergiu dessa controvérsia merece ser considerada atentamente: por que ensinar variação em sala de aula? Este texto é uma tentativa de responder a essa pergunta.

A variação na fala é objeto de estudo da Sociolinguística, ciência que surgiu em meados do século passado, motivada pela preocupação de especialistas em estudos da linguagem com o fraco desempenho escolar de crianças pobres nos Estados Unidos e na Europa. Enfatizava a

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