Por uma vida melhor

A polêmica do livro "Por uma vida melhor" é, de fato, muito mais ideológica do que linguística. Desde 2011 o MEC tem sido insultado por jornalistas, professores e, inclusive, profissionais de outras áreas por aprovar o livro didático. Ao passo que alegam entenderem os exemplos do livro como erros gramaticais, culpam o Governo petista por deixar que nossas crianças aprendam essas coisas absurdas. É interessante que o aluno tenha conhecimento de todas as variações linguísticas e saiba usá-las em cada situação, mas será que esse tipo de abordagem deva ser discutida em uma sala de aula do ensino fundamental ou médio? Qual é a real necessidade de princípios linguísticos estarem em um livro que não é destinado a estudantes de Letras? É verdade que quando dizemos "os peixe", a mensagem é entendida pelo interlocutor, porém há uma diferença entre explicar por que uma mensagem fora do padrão formal da língua funciona e atestar sua validade como variante. É certo que a linguística não discute como a língua deve ser e sim como ela é, mas não é tão simples discutir questões acadêmicas com pessoas que precisam aprender a base da língua portuguesa. Alguns estudiosos como Pasquale Cipro Neto e Marcos Bagno argumentam a favor da publicação alegando que ela não nega a existência da forma culta da língua portuguesa e é destinada ao EJA, ou seja, não será ministrada em uma sala de aula para crianças. Além do mais, o tratamento da variação linguística como fenômeno inerente a toda e qualquer língua humana está presente no currículo educacional há pelo menos 15 anos, desde que foram publicados os PCNs (1997) na primeira gestão de Paulo Renato à frente do Ministério da Educação. De fato, a mídia não aborda o tema de uma forma correta, é mal informada e mal preparada para tratar de assuntos como esse. Mas também é verdade que todos os exemplos citados no livro são de uso recorrente na língua. Linguisticamente o livro não fala bobagem alguma, mas todo cuidado é pouco