Ponci Vic Ncio

Descendente de escravos africanos, Ponciá surge já de início do nome de família, pois o "Vicêncio", que todos os seus familiares usam como sobrenome, provém do antigo dono da terra e era como lâmina afiada a torturar lhe o corpo. E depois de perder também os sete filhos que gerou, Ponciá cai em um desânimo que a faz perder-se de si mesma.
Ponciá vai em busca de dias melhores na cidade, mas acaba numa favela, vegetando ao lado de um marido que não a compreende. Sua descendência escrava vai se confirmando na vida difícil que leva, nos sonhos apagados pela discriminação e pela marginalização que tanto ela, quanto os outros de sua família sofrem. Sua condição social e cultural continua sendo regida pelo passado africano. Sua trajetória do espaço rural para o urbano representa sua condição diaspórica. Também o irmão de Ponciá, Luandi, vai para a cidade em busca de sonhos como achar a irmã que há muito havia partido e juntar dinheiro. Sua viagem também marca a diáspora daqueles que, desterritorializados, perpetuam as histórias do navio negreiro. Luandi chegou num dia de chuva e frio e trazia muita fome também.
Maria Vicêncio, mãe de Ponciá e Luandi, também embarca no navio negreiro em busca dos filhos. Ela sabia que, por mais que resistisse, um dia a cidade também faria parte de sua travessia.
E a viagem de Maria Vicêncio ocorre semelhante a dos filhos: Quando o trem, depois de intermináveis dias e noites, parou na estação, Maria Vicêncio esticou as pernas com dificuldade. Ela ficou todo tempo da viagem encolhida com a trouxa no colo, rezando suas orações. Sentiu a bexiga pesada, estava com vontade de urinar, mas o medo não permitira que ela se levantasse e fosse ao banheirinho do trem ou mesmo dos lugares em que máquina parava.
Vale ressaltar que a força e o poder das mulheres ficam também evidenciados no filme, mesmo quando há uma aparente fraqueza.