Política
Habitualmente as análises da política não levam em conta o
político, sendo que essa experiência cotidiana das pessoas em relação com
a ordem comum é a matéria-prima da qual se nutre a política institucionalizada.
O político escapa a qualquer definição substantiva e não se deixa
fixar definitivamente; mas tampouco é um mero espaço virtual que se
possa preencher com um conteúdo qualquer. O político relaciona a vida
social com a comunidade de cidadãos, circunscrevendo a constelação sempre
variável dos múltiplos elementos que configuram a ordem. Refere-se a
relações, mediações, proporções, por isso é tão difícil determiná-lo; mas
ignorar “o político” significa amputar a política e reduzir o fenômeno
político a suas formas visíveis. Quero dizer: limitando-nos à política institucionalizada,
nós reforçamos exatamente esse caráter oculto da política que com tanta razão se denuncia. Por conseguinte, eu tentarei, a seguir,
complementar a descrição das mudanças da política com uma exploração
das transformações do político. Atualmente, uma abordagem fecunda do
político consiste em refletir sobre o mal-estar com a política. No meu
entender, existe hoje um amplo, mas silencioso, receio que não se deve
confundir nem com rejeição da política nem com má vontade para com a
democracia. Mencionando a dupla face desta, o protesto não se refere ao
princípio de legitimidade, e sim à “democracia realmente existente”.16
Creio que o mal-estar expressa uma reação contra as formas atuais de fazer
política, acima descritas, à luz de uma imagem familiar do que é e do que
deveria ser a política. Ao mesmo tempo, no entanto, essa idéia da política
também parece estar mudando juntamente com as grandes transformações
econômicas e culturais. Verifica-se uma redefinição do político17 sem que,
por hora, se haja cristalizado uma nova visão. Em síntese, parece-me que
o atual mal-estar com a política