Política da Massa
O populismo na política Brasileira. Francisco Weffort. Paz e Terra. 5ª edição 2003. Política de massas
O célebre slogan de Antonio Carlos em 1930 ? ?façamos a revolução antes que o povo o faça? constitui a divisa de todo o período histórico que se abre com aquele movimento e se encerra com o golpe de Estado de 1964. Por força da clássica antecipação das ?elites?, as massas populares permaneceram neste período (e permanecem ainda nos dias atuais) o parceiro-fantasma no jogo político. Foram a grande força que nunca chegou a participar diretamente dos grandes embates, sempre revolvidos entre os quadros políticos dominantes, alguns dos quais reivindicando para si a interpretação legítima dos interesses populares. Em todas as crises, desde 1945, a intervenção do povo apareceu como possibilidade, mas o jogo dos parceiros reais consistiu em avaliar, tacitamente, a importância desta intervenção e em blefar sobre este cálculo. Ainda nos debates de 1963 sobre as reformas de base, por exemplo, todos ? mesmo os mais radicais ? comportavam-se como se esperassem encontrar uma ?fórmula? que tornasse desnecessária aquela participação. Em país algum ter-se-á observado uma tão ansiosa busca de compromisso, até entre os grupos políticos mais antagônicos, que evitasse a radicalização do processo político e seu encaminhamento para soluções surpreendentes.
Ás vésperas do golpe de Estado de 1964, mais de 30 anos após a revolução que derrubou a República Velha, era inegável, contudo, a marca do espírito oligárquico nas novas elites, repentinamente envelhecida ante a profundidade dos problemas que deveriam superá-las. Tornava-se evidente o esclerosamento dos quadros políticos diante do agigantamento do fantasma popular, esclerosamento que atingia mesmo aqueles que, adotando soluções reformistas, pretendiam revigorar a velha divisa de 1930. As margens de eficácia tradicional política de compromissos reduziam-se drasticamente. Desde 1961, com a renuncia de Jânio