Poemas
Vinte e duas horas. A noite já é ardente.
Nubleando tudo... sorrateiam nas faixas reais.
Negro fulvo, de leve... bem docemente...
As moças desajeitadas, pensando ser sensuais.
Andam com saltos no ar; e de súbito surgem
Flores desabrochadas em escadas, escaladas.
Mostram por entre os longos ombros, nude,
Os perfis despreocupados, despreparadas.
Tudo é tranquilo, reflexivo, sem sabor.
Olhando esta paisagem que revela
De Deus, eu penso então: quem é o pintor?
O artista sábio, de entendimento profundo
Que idealiza na noite em tela, que espera,
As imagens instigantes e bizarras do mundo.
MÊS DE JUNHO
Os nativos comem e bebem lentamente
Na movimentada passagem das bandeirolas.
Perpassa em meus olhos, opacamente,
A imagem dos meus sonhos, carambolas.
Junto de mim um casal. De mansinho
Vão se embrenhando de amor
E soltam frases feitas, bem pertinho,
Embalados na tradição, no calor.
Um balão, dois balões no ar.
Todos parecem a mesma canção embalar.
Um pedaço de terra, sem igual!
Rostos, imagens do que um dia vivi.
Minha terra de cores e sons quero sentir
A transpiração: essência fundamental.
ANSEIO
Meu insensato coração aonde vais
Com esse desejo tremendo de liberdade?
A prudência precisa ser tua realidade.
Meu insensato coração não se esvai!
Aquieta-se um instante. Não amais
A sutil melodia da melancolia?
Teus lindos sonhos, quase irreais,
Valem o grande prazer da alegria!
Não se volte para os muros da prisão,
Pois o passado ainda surge em seu coração.
Não perca o prumo com o deslumbre do luar.
Não estenda tuas asas para tão longe...
Deixe-se aquietar feito passarinho na ponte
Na cautela interior dos olhos, até o amar!
SOU
Sou sentimento perdido no mundo.
Sou reflexo da inconstância, sem cais.
Sou aquela que fica no sonho profundo.
Sou filha da vida e do amor, nada mais.
Sou alma do “eu verdadeiro” fecundo.
Sou destino tênue, criador, forte e fugaz.
Sou mulher e menina num