Platão e aristoteles
Clara Maria Brum de Oliveira e Wellington Trotta* 1. Introdução O propósito deste trabalho é passar em revista algumas lições de Platão quanto ao sentido de justiça e como esse pensamento é organizado politicamente, e em que medida Aristóteles se contrapõe a ele na elaboração do seu sistema político-jurídico. Inicialmente uma pergunta pode ser feita: qual a importância de se visitar esses autores tão distantes do nosso tempo, e, além do mais, longe de nossas formas de pensar. Tomo, para dar curso a reflexão, as palavras de Ítalo Calvino: “os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e, atrás de si, os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram.”
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O primeiro ponto a ser destacado é o fato de nossa cultura ser em última análise herdeira das construções gregas, ou para alguns representarmos o futuro daquilo que costumamos assinalar como grecidade. Seja como futuro ou passado cultural, o que importa é que somos filiados ao imaginário político pensado, discutido e belicamente defendido pelos gregos, ou melhor, nossa matriz teórica passa pelo pensamento grego, que segundo Jean-Pierre Vernant, tem sua origem no embate político (1992). Então por que, em uma conceituada revista de ciência política como
www.achegas.net, toma-se espaço de outros escritos, talvez mais marcadamente atuais? Talvez porque necessitamos nos aconselhar com os mais velhos; talvez pela necessidade de ouvirmos a experiência daqueles que nos antecederam na experiência citadina; talvez, quem sabe, nosso referencial teórico esteja por demais quantificado matematicamente, pensando política a partir de jogos lógicos como xadrez ou coisa análoga. Bem, este é um desafio.
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ENTRELIVROS, Entreclássicos, SP: Ediouro, nº 1, julho – 2006: 5.
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E como desafio começamos na primeira parte do texto analisando o pensamento de Platão, levando em