Pinker versus sapir

858 palavras 4 páginas
Ana Caroline Correia
Universidade Federal de Uberlândia

Atualmente, está na moda dizer que as pessoas pensam em sua língua materna. Quer por patriotismo, querem por desinformação, muitos dizem que ser brasileiro é, entre outras coisas, ‘pensar em português’, ou que a comunicação internacional é hoje praticamente impossível porque os norte-americanos ‘pensam em inglês’, uma língua fria, ou muito menos acolhedora que o português. Tais convicções são tão comuns e parecem tão evidentes que poucos questionam sua legitimidade. A questão da relação entre a fala e o pensamento já era discutida pelos gregos antigos e pelos filósofos alemães do século 19. Em seu lendário livro Linguagem: uma introdução ao estudo da fala, publicado em 1920, Sapir argumentou que, mesmo em momentos de silêncio, sem serem pronunciadas, as palavras são usadas durante o processo de pensamento. Segundo ele, as pessoas, ao pensar, “deslizam para um fluxo silencioso de palavras”, que servem como “cápsulas de pensamento que contêm milhares de experiências distintas”.
O linguista e psicólogo Steven Pinker, da Universidade de Harvard, defende que há em todos nós emoções que não têm nomes em muitas línguas. Como exemplo, Pinker aponta um sentimento bastante conhecido: a satisfação que sentimos ao ver a desgraça ou o sofrimento de uma pessoa abominável. Esse tipo de satisfação não tem nome em inglês, ou em português, e dificilmente os falantes dessas línguas podem defini-la sem usar um grupo de palavras. Até onde sabemos apenas uma língua dispõe de um vocábulo adequado: a palavra é Schadenfreude e só os alemães sentiram a necessidade de inventá-la. No entanto, isso não impede que todos os seres humanos – e não só os alemães – estejam familiarizados com a delícia de assistir ao infortúnio de alguém que o mereceu.
Outro problema da hipótese de Sapir é que implicaria acreditar que os animais são ‘autô-matos’ não pensantes – afinal, não falam. Tornou-se claro, portanto, que a versão ‘dura’ da

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