PESQUISADOR E OBJETO: UM CAMINHAR CONSTANTE DE APROXIMAÇÃO

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PESQUISADOR E OBJETO: UM CAMINHAR CONSTANTE DE APROXIMAÇÃO

1.1 Conquistando e Construindo o Objeto de Pesquisa no Ato da Aproximação

“O homo academicus gosta do acabado. Como os pintores acadêmicos, ele faz desaparecer dos seus trabalhos os vestígios da pincelada, os toques e os retoques: foi com certa ansiedade que descobri que pintores como Couture, o mestre de Manet, tinham deixado esboços magníficos, muitos próximos da pintura impressionista – que se fez contra eles – e tinham muitas vezes estragado obras julgando dar-lhes os últimos retoques, exigidos pela moral do trabalho bem feito”1.

Durante entrevistas realizadas para elaboração de minha dissertação de mestrado deparei-me com algumas mulheres vivendo com HIV/Aids2 que sofriam do desarranjo da gordura corporal denominado lipodistrofia: excessiva concentração de gordura na região do abdômen/ventre (gordura central), entre os ombros, em volta do pescoço ou no tórax e perda acentuada de gordura nos braços, pernas, nádegas e rosto. Nestas circunstâncias são inevitáveis a lipoatrofia das regiões citadas e as veias saltadas nos membros inferiores e superiores. As mulheres costumavam mencionar que por conta dos braços “finos” e das pernas “secas” se envergonhavam da própria aparência.
Após ingressar no doutorado em sociologia as discussões travadas em sala de aula com docentes e colegas do Progama da Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará convenceram-me que minhas inquietações encontravam-se bastante concentradas no corpo considerado fisicamente feio. Quando eu dizia que provavelmente mulheres com lipodistrofia narrariam muitas coisas relacionadas às alterações na massa corpórea por estarem distantes do corpo belo padronizado pela sociedade atual, eu reduzia por demais a problemática corporal. Não se exige muito para deduzir que alterações físicas que reverberam na perda da silhueta feminina causam desconforto, afinal, nunca na história se valorizou tanto a aparência e nunca também as

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