Pendurando as chuteiras

Pendurando as chuteiras

Diante da necessidade de escrever uma frase para colocar em uma placa, para homenagear um colega que estaria se aposentando, me vi embaraçado, pois não sabia exatamente o que significaria àquele momento para ele, que dedicou grande parte de sua vida ao trabalho. Certamente que ele, como tantos outros, não estaria preparado para esse dia; sua cabeça deveria estar a mil, cheia de duvidas, inseguranças, talvez uma mistura de alegria e tristeza, uma sensação de conquista e de perda.

A verdade é que não é fácil a ninguém entender que, em algum momento de sua vida profissional, depois de anos de dedicação ao trabalho, terá que sair de cena, isto é, romper com o vício do trabalho, alimentado por anos e anos, e de repente sem nenhuma terapia, precisa deixar de lado sua agenda de reuniões, seus compromissos inadiáveis, suas viagens de negócios, em fim, ter num passe de mágica todo o tempo do mundo para se dedicar à família, aos amigos, enfim, ter toda sua mente voltada única e exclusivamente para seus planos pessoais. É de abalar qualquer estrutura emocional, não preparada para esse momento.

Apesar de tantas coisas boas que se possa vislumbrar, diante da possibilidade de uma aposentadoria, acho que não existe uma maneira emocionalmente confortável para nos declararmos enfim, aposentados. O sofrimento é inevitável, não só pelo impacto da mudança em si, mas pelo sentimento de pânico diante da idéia de recomeço, a essa altura da vida.

A questão, que desejo trazer a tona, é da necessidade indiscutível de uma melhor preparação para esse inevitável fato, não necessariamente como se fosse algo terrível, que precisássemos enfrentar, mas no sentido de melhor aproveitar, usufruir dos anos da aposentadoria, enfim, viver. Se a aposentadoria vai chegar, é melhor que nos preparemos para ela, o quanto antes, ao invés de simplesmente esperá-la acontecer.

Aprender a curti-la da mesma forma que curtimos o