PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL Haroldo Leitão de Camargo, Col. ABC do Turismo, Ed. Aleph, S. Paulo, 2002 (p.72 – 93) UM OUTRO CONCEITO DE CULTURA. O PATRIMÔNIO DOCUMENTAL E O PATRIMÔNIO AUSENTE ...não há qualquer noção de patrimônio ou de bens patrimoniais no Brasil do século XIX. Aqui e ali, pode se aludir a precursores e exemplos pontuais e isolados sem qualquer consistência para constituir-se um fato histórico-social de nota e, principalmente, de política de preservação ou como atrativo turístico. Tudo isso, ... emergirá efetivamente na terceira década do século XX. Em primeiro lugar, como o Brasil se via a si mesmo? É importante notar que as referências são emanações das elites dirigentes. Era apenas um segmento social, que não apenas exprimia, mas definia o caráter ou a identidade brasileira. Fundado como EstadoNação, na esteira dos movimentos de libertação política, oriundos da Revolução Francesa, o que era o brasileiro? Afirma-se primeiramente com uma negação: é o não português. O primeiro movimento é de rejeição. Além da conjuntura política, não é à toa que o primeiro imperador é visto com desconfiança por suas origens e com temor por um eventual reatamento com a antiga metrópole, pois ele era, de fato, português. Ora, a rejeição não se relaciona apenas com pessoas, mas com as coisas. O legado português era a herança do país por se fazer. Atrasado, pouco povoado, sem os recursos dos países da Europa Ocidental. Nesta porção da Europa, onde estavam as sociedades mais avançadas? Na Inglaterra e na França. Se a primeira tinha as indústrias, os capitais e as instituições parlamentares perfeitamente compatíveis com a monarquia, a Segunda tinha a hegemonia e a superioridade culturais entre todos. A vantagem sobre a Inglaterra se evidenciava por ser um país latino com um alto grau de civilização. O que se poderia obter da antiga metrópole, se mesmo ela deixava-se impregnar pela cultura francesa? O conceito de cultura identificava-se com o de civilização. Ou seja,