Pasmorre

6172 palavras 25 páginas
ATITUDES FRENTE À NATUREZA1 John Passmore A ambigüidade da palavra “natureza” é tão notável que dispensa comentários. Exceto, talvez, para enfatizar que esta ambigüidade – quase tão aparente quanto Aristóteles o denotou, há muito tempo, no seu equivalente grego “physis” – não representa um produto meramente acidental de confusões ou fusões etimológicas: reflete fielmente as hesitações, dúvidas e incertezas com as quais os homens têm se deparado frente ao mundo ao seu redor. Para os meus objetivos específicos, é o bastante dizer que usarei a palavra “natureza” em um de seus sentidos mais restritos: apenas incluindo aquilo que, deixando de lado o sobrenatural, designa o que não é humano, nem por si próprio, nem nas suas origens. Neste sentido, nem o arquiteto Sir Christopher Wren, nem a catedral de Saint Paul fazem parte da “natureza”, ou pode ser difícil decidir se uma pedra lascada de forma esquisita ou uma paisagem onde as árvores estão regularmente espaçadas é ou não “natural”. A questão que estou levantando, então, é: quais têm sentido e quais devem ser nossas atitudes frente à natureza, neste entendimento delimitado da expressão, que exclui tanto o humano quanto o artificial. E, mais restritamente ainda, devotarei a maior parte de minha atenção para nossas atitudes frente àquela parte da natureza passível de modificação pelo poder do homem e, em particular, frente ao que Karl Barth chama “a estranha vida dos animais selvagens e das plantas que nos cerca”, uma vida que podemos destruir pelas nossas ações. Em que sentido a vida animal e vegetal é “estranha”? As próprias atitudes dos seres humanos para com outros seres humanos são variáveis e complicadas; nossos pares humanos agem, muitas vezes, de modos estranhos aos nossos olhos. Mas há modos de lidar com seres humanos que nos faltam quando nos confrontamos com a natureza. Podemos argumentar com os seres humanos, debater com eles, tentar alterar suas condutas pela admoestação ou pela súplica. Não há dúvidas de

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