Para além da razão
Terá a intuição um papel a desempenhar no modo de conhecer? Ezequiel J. C. Fumega, a60826
Numa época dominada pela ciência moderna e, portanto, pautada pelo rigor científico, pela indispensabilidade de justificar as nossas convicções e pela necessidade de demonstrar empiricamente essas justificações, as nossas crenças que, por mais óbvias que pareçam, carecem de justificação, são colocadas num patamar inferior. Contudo, temos boas razões que nos levam a admitir a possibilidade de a intuição desempenhar um papel relevante, ainda que insuficiente, na obtenção do conhecimento. O ónus deste trabalho reside, assim, em argumentar em prol desta afirmação, evocando posições de outros autores da Filosofia e de outras áreas, propondo, em jeito de conclusão, uma alternativa para o modo de conhecer, concorrente ao uso único e exclusivo da razão.
Não obstante, urge, ainda, revelar que, ao longo do ensaio, por conhecimento se deva entender a possibilidade de chegar à origem dos fenómenos ou factos que, aparentemente, descrevem a realidade. É no modo de conhecer essa explicação, nomeadamente no papel que a razão e a intuição nele assumem, que reside a questão fulcral deste trabalho. Começaremos, desde logo, por responder a uma questão que indubitavelmente se impõe: “O que têm de comum razão e intuição?”.
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Entendamos razão e intuição como dois tipos de raciocínio ou modos de conhecimento, isto é, duas chaves interpretativas da realidade que nos fornecem a possibilidade de acesso à explicação dos fenómenos, que definem a realidade. Desta forma, ambos constituem modos pelos quais, o conhecimento tem acesso ou recebe a verdade. Todavia, o que distingue então estes dois raciocínios?
Blaise Pascal, em Pensamentos, afirma existirem dois “espíritos”1, um “espírito geométrico”2 (espirit de geométrique) e um “espírito de fineza”3 (espirit de finesse): Há, portanto, dois tipos de espírito: um penetra viva e profundamente nas consequências dos princípios