Os tempos e espaços escolares
Os tempos e os espaços escolares no processo de institucionalização da escola primária no Brasil
Luciano Mendes de Faria Filho
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais
Diana Gonçalves Vidal
Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo
“Minha escola primária... Escola antiga de antiga mestra. Repartida em dois períodos para a mesma meninada, das 8 às 11, da 1 às 4. Nem recreio, nem exames, Nem notas, nem férias. [...]
À direita – sala de aulas. Janelas de rótulas Mesorra escura Toda manchada de tinta das escritas. Altos na parede, dois retratos: Deodoro, Floriano.” Coralina, 1985, p. 75-77.
Não havia chamada E sim o ritual De entradas, compassadas. ‘_ Bença, mestra...’[...]
A casa da escola inda é a mesma. _ Quanta saudade quando passo ali! Rua Direita, nº 13. Porta da rua pesada, Escorada com a mesma pedra da nossa infância. Porta do meio, sempre fechada. Corredor de lajes E um cheirinho de rabugem Dos cachorros de Samélia.
Ao recordar sua escola primária, Cora Coralina detém-se na descrição de espaços e na contabilidade de tempos. Entremeadas às lições e aos nomes dos colegas, as marcas espaciais e temporais da memória ressurgem inscrevendo as experiências escolares da infância entre as horas do relógio e as paredes da casa. Para Agustín Escolano (apud Viñao, 1995, p. 72), nem o espaço, nem o tempo escolares são dimensões neutras do ensino, simples esquemas formais ou estruturas vazias da educação. Ao contrário, afirma que operam como uma espécie de discurso que institui, em sua materialidade, um sistema de valores, um conjunto de aprendizagens sensoriais e motoras e uma semiologia que recobre símbolos estéticos, culturais e ideológicos
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Revista Brasileira de Educação
Luciano Mendes de Faria Filho, Diana Gonçalves Vidal
(Escolano, 1998, p. 26). Como pedagogias, tanto o espaço quanto o tempo escolar ensinam,