Os homens não fervem à mesma temperatura
Por algum tempo, lamentei profundamente não estar com a filmadora em mãos e ter registrado o primeiro dia de aula na EMEB em que trabalho. Era o primeiro dia do ano letivo de 2004 e recebíamos as crianças.
Direção, professores e funcionários organizados e preparados para o primeiro encontro; o primeiro contato com os principais protagonistas da cena inicial de mais um espetáculo anual em que somos, ao mesmo tempo, atores, espectadores, produtores, diretores e críticos desse drama que se vive atualmente nas escolas.
Especial cuidado, atenção e acolhimento eram dispensados aos que pela primeira vez ingressavam no elenco e no cenário novo de suas novas vivências escolares. Cada professora do 1º ano do ciclo I conferia o nome da criança que a mãe entregava com os nomes da lista que tinha em mãos. Nisso, eu vi a Kátia sendo entregue pela mãe à professora Nelba. Instintivamente nossos olhares (os meus, os da professora e os do diretor da escola) se cruzaram. O espanto estava estampado em nossos olhos. Ninguém, entretanto, disse nada naquele momento.
A garota, extremamente assustada e agressiva, esmurrava o ar e a quem encontrasse pela frente. Visivelmente, Kátia apresentava características de
Síndrome de Down.
A professora acalmou Kátia e conduziu a turma para a sala de aula.
O trio gestor se reuniu e uma pergunta pairava no ar. “Você tinha conhecimento que receberíamos uma aluna com tais características?” Não.
Nenhum de nós tinha sido informado, nem pelos pais, nem pela escola precedente, nem pelo EOT, nem por entidade alguma. Kátia havia freqüentado em
2003 a EMEI Graciliano Ramos. Não sabíamos como proceder com a Kátia.
Estávamos desarmados, mas não despreparados.
Depois, a professora contou o diálogo que tivera com a mãe, durante a primeira entrevista – “A minha filha é especial, professora, trate bem dela”. Ora, toda mãe acha que seu filho é especial, especialmente quando a diferença de
idade