os espelhos de Lacan
Ano 2 • Número 6 • novembro 2011 • ISSN 2177-2673
Os espelhos de Lacan
Musso Greco
É falso dizer: “Eu penso”. Devíamos dizer: “Pensam-me”. Perdão pelo jogo de palavras. Eu é um outro. Tanto pior para o lenho que se descobre violino, e provoca os inconscientes, que chicanam contra aquilo que ignoram por inteiro!
Arthur Rimbaud, Carta a Georges Izambard
A experiência do espelho tem um caráter primordial na teoria psicanalítica, se a entendermos, mais do que como uma fase bem delimitada do desenvolvimento da criança, como um modelo
que
atravessa
toda
a
vida
do
sujeito,
representando a relação libidinal essencial com a imagem corporal, e ilustrando o aspecto de conflito presente na relação dual. Trata-se mais de espelho que de estádio, ou seja, mais de relação (consigo e com o outro) do que de história, mais de percepção da alteridade do que de uma propriocepção. A problemática do eu e do corpo está presente na obra de Lacan desde os primeiros momentos de sua trajetória pela psicanálise, retificações
sofrendo que ele
reformulações introduz, correlativas
articulando-a,
às
além
do
Imaginário, também ao Simbólico e ao Real. Entretanto, na esteira de Freud, o corpo ao qual ele se refere não é o corpo marcado
biológico, pelo mas
o
significante
corpo
virtual
(corpo-fala)
(corpo-imagem), e habitado
pela
libido (corpo-gozo), que demanda um olhar distinto daquele da medicina.
1. O Estádio do Espelho
Pelo
lado
da
imagem
encontramos,
evidentemente,
o
olho, nosso primeiro aparelho de coordenação do espaço, que começa a
percebê-lo,
registrá-lo
Opção Lacaniana Online
e
organizá-lo
Os espelhos de Lacan
1
"antecipadamente", organismo possa
ou
seja,
desde
mobilizar-se
e
muito
antes
deslocar-se
que
o
fisicamente
nesse campo, já que a