ONGs no Brasil: Expansão, Problemas e Implicações Sylvia Constant Vergara1 Victor Cláudio Paradela Ferreira2 Resumo Verificou-se, nas últimas décadas, um expressivo crescimento no número de ONGs no Brasil e na abrangência dos trabalhos por elas desenvolvidos. Esse fenômeno tem dividido opiniões, sendo apontado por alguns como positivo, enquanto outros o percebem como uma nefasta conseqüência do modelo político adotado, que reduz o estado e privatiza de forma indevida funções típicas do governo. Também tem sido denunciada a existência de diversas fraudes e distorções e a obtenção de vantagens pessoais por parte de dirigentes de algumas dessas organizações, assim como a carência de legislação específica que as controle. Na tentativa de compreender criticamente essas organizações complexas e polêmicas, o presente trabalho, suportado por literatura pertinente, promoveu uma pesquisa de campo em ONGs selecionadas, entrevistando seus dirigentes e analisando documentos institucionais. A pesquisa revela os principais fatores que podem ser apontados como indutores do crescimento das ONGs verificado no país, aponta problemas e distorções que estão sendo gerados e as implicações daí decorrentes para a sociedade, o governo e a academia. Palavras-chave: crescimento – legitimação – aspectos sombrios – características 1. Introdução A partir da década de 1980, as Organizações Não-Governamentais (ONGs), que fazem parte do chamado Terceiro Setor, alcançaram significativo crescimento no Brasil, assumindo papel de destaque na sociedade. Embora diversas dessas organizações já existissem há algum tempo, foi a partir daquela década que se popularizou esse termo e que houve um notável crescimento quantitativo e no impacto da ação desse tipo de organização. No início, tais organizações foram percebidas como iniciativas de apoio a causas específicas, baseadas em trabalho voluntário e comprometidas com ideais de justiça e solidariedade. Sobre elas desenvolveu-se uma certa áurea romântica,