Olhos de Caim: a inveja sob as lentes da linguística e da psicanálise
Maria Flávia Figueiredo
Luis Antonio Ferreira
Podemos descrever o nosso ódio, o nosso ciúme, os nossos medos, as nossas vergonhas, mas não a inveja. (Francesco Alberoni)
O presente trabalho tem por finalidade propor uma discussão acerca de uma das paixões mais características da natureza humana: a inveja. Ela está presente na literatura, nos contos, nos mitos, na realidade, nas narrações, nos aforismos, no folclore, na cultura popular e, dada a sua relevância, foi tratada por diferentes pensadores ao longo da história.
Dentre eles, podemos citar: Aristóteles (384-322 a.C.), Ovídio (43-17?
a.C.), Francis Bacon (1561-1626), Freud (1856-1939), Melanie Klein
(1882-1960), Lacan (1901-1981) e muitos outros.
Bacon, por exemplo, de forma contundente, chegou a afirmar que
“A inveja é a ejaculação dos olhos”. Essa definição nos remete à própria etimologia da palavra inveja, formada pelos étimos latinos in (dentro de) + videre (olhar), que indicam claramente o quanto esse sentimento alude a um olhar mau que penetra no outro. Essa alusão acabou por se disseminar em diferentes expressões populares, tais como mau olhado, olho grande, olhar que seca pimenteira, entre outras.
Há uma outra significação etimológica possível: o prefixo in designa
Coleção Mestrado em Lingüística
uma negativa, uma exclusão, de modo que in + videre pode traduzir a inveja a serviço do sujeito que se recusa a ver e a reconhecer as diferenças entre ele e o outro, uma vez que esse outro possui as qualidades de que ele necessita e que almeja ter (cf. Zimerman, 2001, p. 225).
Aristóteles, quatro séculos antes de Cristo, na Retórica – Parte II, trata a inveja como uma das catorze paixões que caracterizam a alma humana. Para esse mestre da retórica, o estudo das paixões se fazia necessário, pois era por meio dele que se poderia conhecer o auditório1.
Nas palavras do autor, “As paixões são todos