Oioioi

1 – O Presente Perfeito

- Acorda, meu filho! Já são dez horas, até parece que você não quer saber se passou no vestibular! Ah, chegou um telegrama pra você do governo. Vai, levanta logo que eu tenho que tirar a mesa do café!
Dona Catarina está muito agitada. Acordou cedo, leu um salmo, orou, fez a caminhada matinal, passou na padaria, comprou o pão de leite que Pedro adora, verificou as correspondências, e em seguida, preparou o café da manhã. Tudo isso, antes das sete e meia.
- Meu Deus, será que meu filho passou na USP? E se passou, como ele vai viver sozinho em uma cidade como São Paulo? - pensa, inquietamente, dona Catarina. Mas há alguém ainda mais perturbado. Aos 21 anos, desempregado, solitário e triste, Pedro está nesta manhã mais ansioso do que em outros dias. Na cama, ora fervorosamente. Pede a Deus, a quem encara como o único amigo, que dê forças, mesmo que não saiba especificar para o que seriam. Ainda está deitado por ter medo de encarar mais um fracasso. O que a mãe irá pensar? O que o pai irá sentir? Qual será o olhar de Diana, a irmã mais nova? Tudo passa pela mente de Pedro. É difícil imaginar o sucesso, acreditar na aprovação. Os holofotes de sua imaginação estão todos voltados para o pior. E emocionalmente se prepara para o que há de vir. Porém, uma palavra inesperada foi dita por sua mãe ao acordá-lo. Hoje, ela saiu do script rotineiro. Falou sobre um... telegrama. – Telegrama? Pra mim? E do governo? – perguntava-se Pedro, desconfiado. A ansiedade misturada com uma dose extra de curiosidade deu-lhe o impulso necessário para se levantar. Descalço, caminhou em direção à sala, deu um bom dia apressado à mãe e nervoso, roubou-lhe o telegrama da mão.
- Hum, deixe-me ver o que está escrito! É do Departamento Penitenciário Estadual. Meu Deus, o que pode ser?
- COMPAREÇA À AVENIDA SÃO JOÃO, 1200, CENTRO, SÃO PAULO, COM OS DOCUMENTOS RELACIONADOS ABAIXO PARA A SUA ADMISSÃO COMO CARCEREIRO.
Com um sorrisinho no canto da boca, ele se