oioi

O homem que sabia javanês
Lima Barreto
Castelo encontrou com seu amigo Castro, num bar tomando uns copos de cerveja, contou a ele as malandragens que tivera que fazer para sobreviver. Castelo passou por momentos difíceis. Foi quando teve a oportunidade e a esperteza, de ser professor de javanês.
Quando chegou ao Rio De Janeiro, estava literalmente na miséria. Vivia de pensão em pensão, sem saber como ganhar dinheiro, foi quando leu um anúncio no jornal dizendo que precisavam de um professor de javanês para traduzir cartas, etc. Percebendo que estava ali uma colocação que não teria muitos concorrentes, decidiu aprender umas quatro palavras e apresentar.
Na Biblioteca Nacional, descobriu que Java era uma grande ilha do arquipélago de Sonda, colônia holandesa, e o javanês, língua do grupo maleo-polinésio, possuía uma literatura escrita em caracteres derivados do velho alfabeto hindu. Então, ele copiou o alfabeto, a sua pronunciação e saiu pelas ruas passeando e escrevendo na areia para guarda bem na memoria e habituar a escrevê-los.
Castelo voltou a procurar o anúncio e redigiu uma carta e deixou no Jornal. Em dois dias, recebeu uma carta para ir falar com o Doutor Manuel Feliciano Soares Albernaz, Barão de Jacuecanga. Diante do Barão, Castelo se apresentou como o professor de javanês de que ele precisava. O velho quis saber onde tinha aprendido o javanês. Aquele não contava com essa pergunta, mas inventou uma mentira. Contou que seu pai era javanês, que viera à Bahia como tripulante de um navio mercante, nas proximidades de Canavieiras como pescador e se casara com sua mãe. Convencido, o Barão disse que queria cumprir um juramento de família. Ao morrer seu avô deu o livro pro seu pai, que deu para guardar e um dia entender que evita desgraças e ser sempre feliz.
O velho Barão explicou que perdera todos os filhos, sobrinhos, só lhe restando uma filha casada, cuja prole, estava reduzida a um filho débil de corpo e de saúde frágil. Lembrou-se do livro esquecido