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ARTIGOS

O CASO PIGGLE
Maria Anita Carneiro Ribeiro

Que esta complete para você o quadro daquilo que ocupa um silêncio demasiadamente longo. Que esta lhe ajude a me perdoar por este silêncio, já que acrescento que meu pensamento está frequentemente com você e sua mulher, com toda a amizade que os daqui de casa votamos a vocês, for ever.
J. Lacan, 5 de agosto de 1960

Este é o final da carta de Lacan a Winnicott, que resta como um documento da complexa relação entre estes dois homens que tiveram em comum a psicanálise como causa.
Donald Woods Winnicott nasceu em 1886, na cidade de Plymouth em Devonshire, Inglaterra, de uma pacata e típica família inglesa. Cresceu cercado de afeto, numa família em que era o único filho varão, caçula de duas irmãs.
Numa obra organizada em torno do “Paradoxo de Winnicott”, composto por artigos e depoimentos de vários autores, notadamente psicanalistas como André Green, Lebovici, Diatkine e Pontalis, entre outros, uma característica é ressaltada; a coerência entre a vida e a obra de
Winnicott. De fato, o título de sua autobiografia não publicada é indicativo de uma leitura da psicanálise que advoga a naturalidade e renega o mal estar na civilização: Not less than Everything – “Não menos do que tudo” – título da autobiografia, parece ser o lema de sua vida e aponta na direção de uma regida pela lógica do todo.
“Not less than everything”: o jovem Winnicott, aos 16 anos decide, após fraturar a clavícula, estudar medicina: “Não podia imaginar que pelo resto da minha vida eu pudesse depender dos médicos... resolvi então converter-me, eu mesmo, em médico”. Em 1923, já clínico geral, começa sua carreira de pediatra, ingressando no Paddington Green Children
Hospital, onde clinica durante quarenta anos, e que ele chamava de “meu snack-bar psiquiátrico”. É também em 1923 que, após ler um trabalho de
Freud, interessa-se pela psicanálise, e procura

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Ernest Jones que o encaminha para análise com

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