Nicolau Totentino

12319 palavras 50 páginas
Tipologia votiva e lição literária:
O caso Tolentino

Agostinho Araújo

Estudos em Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004, p. 175-196

Tipologia votiva e lição literária: o caso Tolentino
Agostinho Araújo *
"Nicolau Tolentino é o poeta mais eminentemente nacional no seu género (...)
As pinturas dos costumes, da sociedade, tudo é tão natural, tão verdadeiro!"
- Almeida Garrett, Bosquejo da Historia da Poesia e Lingua Portugueza, 1826.

Introdução
Nicolau Tolentino de Almeida (1740-1811), nascido e falecido em Lisboa, era filho de um advogado da Casa da Suplicação. Andou intermitentes anos por Coimbra, na década de 60, frequentando a Faculdade de Leis, cujo curso talvez não tenha chegado a concluir.
Depois de Évora1, foi na capital mestre de Retórica e Poética nas escolas públicas criadas pela reforma pombalina; mas a função docente não o entusiasmava. Procurou então e alcançou seguir a carreira burocrática, como oficial da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino.
Pela origem familiar, preparação académica e vida profissional já qualquer testemunho seu teria, em princípio, algum interesse. Acresce que este filho de uma pequena burguesia remediada conviveu com o povo das ruas, botequins e prostíbulos, ao mesmo tempo que orbitava sem parança a mesa, os salões e os favores - o menor dos quais não terá sido a edição, a expensas régias, das
Obras Poéticas, em 1801 - da influente aristocracia de corte.
Mas é o carácter suigeneris da sua arte literária, balanceada entre o sociológico de todo o risível coevo (excepto, bem entendido, o concernente aos grandes que lhe davam o peru, o colete e as ambicionadas fitas e cruzes dos cargos e das ordens honoríficas) e o psicológico da congénita melancolia, entre a concreção da luz zombeteira e a amarga névoa intimista trespassando o próprio autor, que vem a constituir uma inestimável fonte histórica, a qual procuraremos explorar acerca
de

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